sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Centro..."CHEGADAS" e "PARTIDAS"

4 da tarde, sol ameno e bonacheirão bate no telheiro da Roda Expresso
Brisa suave que promete para a noite humidade
Eu sentada num banco, companheiro cigarro na mão em amena conversa com a brisa
De canadianas nas mãos um ALGUÉM junto a mim passa, levanto os olhos dos rabiscos, o ALGUÉM continua seu caminho…a caneta faz seus rabiscos
Na minha frente outro ALGUÉM, lê o jornal pelo canto do olho vê olha quem passa, TAL e QUAL quem vê caminhos sem olhar.
Ao meu lado uma jovem petisca uma sandes com cheiro a um frito qualquer mastigado com alface.
Trincadinhas subtis, próprias de quem está de dieta…da vida talvez
Bem no meio dos meus pés, um pombo de papo cheio de si debica ali mesmo migalhas com sabedoria e conhecimento.
Olho o relógio – está quase na hora – agarro o saco e mudo de pouso
Sento-me junto da placa LINHA 5 /VIATURA 42
E volto a olhar…e volto a ver
Um ALGUÉM de mãos na cintura, com fralda da camisa de fora percorre o corredor devagar, lentamente próprio de quem espera aquilo que já demora.
Um autocarro (gosto mais de camioneta) chega.
Pessoas descem, com caras amachucadas mas muito Irrequietas, algumas despenteadas, umas quantas com olhos de Curiosidade que se lia Espanto e outras com muita pressa…
Todos me fizeram lembrar o despertar de um sono UTERINO
Brancos, Negros, Chineses, Ciganos, Brasileiros e até de Leste todos dentro das mesmas paredes.
Minha Lisboa é assim, tudo é igual a uma MEGA misturadora.
Casal novo para junto da placa, dois ALGUÉNS que respiram o mesmo ar de químico que compõe a paixão.
Nas mãos dela um ramo de flores. Para oferecer? Oferta de quem fica para quem parte? É pergunta que fica no ar
Uma ALGUÉM passa, amarrota um papel qualquer e atira ao chão
Com sorriso amargo pensei, quantos ALGUÉNS terá ela amarrotado e quantos ALGUÉNS a terão deitado ao chão
Na ponta do meu banco um jovem negro estilo “Hi man” sorve uma tablete de chocolate
Logo ao lado uma mãe e filho devoram pipocas arrumadas dentro de um balde.
Muitos ALGUÉNS, puxam malas com rodas, TODOS para TODAS as direcções
Novos ou velhos com seus caminhos comprados…
Está na hora…mostrei o bilhete…entrei LUGAR 7 … estava ocupado
Sorrio com o bocadinho de papel na mão e :
- Viva boa-tarde alguma coisa correu mal
- Estou no seu lugar, saio já – respondeu o homem acomodado no banco de fora sem me dar tempo a mais nada
- Sem os óculos não vejo nada – afirmou a mulher já de revista alojada no colo com pagina marcada
Esticou o bilhete para mim – veja lá
- Deixe cá ver – sacana digo mentalmente – pois …é o ligar 23
- E…é tão lá para traz – insinuou vagar o banco
- A mim não me incomoda em nada
- Não eu vou lá para traz, eu é que não vejo nada sem os óculos
- Pois claro isso acontece muito - respondi com um sorriso arrevesado que acompanhava a resposta silenciosa – cabra não vez sem os óculos e lês a revista
Fiquei a lembrar todos aqueles que ocupam as vidas alheias de formas tão diferentes mas sempre TÃO SEM INTENÇÃO
Sorrio deliciada, já com o olhar a beijar a minha Lisboa, traquina, irrequieta e ladina.
Num AGORA tão rica
Num DEPOIS tão paupérrima
E fico bem ao entrar numa das suas saídas.
5 da tarde, caminhos comprados na carteira
Rolam pneus nas estradas dos caminhos da vida
E agora digam lá que a VIDA não é igual a um centro de CHEGADAS e PARTIDAS



8 comentários:

Cris Medeiros disse...

Vc é uma observadora do cotidiano e eu tb sou! Adoro ficar parada pensando na vida que rola por trás de cada rosto!

Beijos

Cris Medeiros disse...

Nossa, minha amiga! Eu já tinha visto aquele vídeo do leão! Chorei muito de emoção em ver como os animais gostam da gente e esse amor ultrapassa barreiras! Me emocionei muito! Obrigada por lembrar de mim! Beijos

Fernando Serra disse...

Achei engraçado a "cabra" ler sem os óculos que tanto a permitiam ver...
Eu observo muito o cotidiano, mas não me animo a comentá-lo em meus textos, visto que o meu mundo gira em uma esfera tão enfadonha que mataria de tédio os meus amigos bloguers...

Obrigado pela ótima crítica!

Fernando Serra disse...

Gozado vir aqui e achar uma cena do cotidiano retratada...
Mais gozado ainda é ver que fazes uma boa duma piada com a "CABRA" que não enxerga bem sem os óculos mas consegue ler sem eles! huauhauha

Então... Também gosto de observar meu cotidiano, mas ele é tão enfadonho que prefiro nem retratá-lo para não matar ninguem de tédio!

Muchas gracias pela ótima crítica e vou ler o "sem título"!
Depois te mando um comentário sobre ele!

Anónimo disse...

Adorei seu post.É por aí mesmo.Comentar o cotidiano é a melhor terapia do mundo.
Beijinhos

Anónimo disse...

Adorei seu post.É por aí mesmo.Comentar o cotidiano é a melhor terapia do mundo.
Beijinhos

Unknown disse...

De vez em quando fico sentando num canto observando, acho sensacional.
Quando acaba me sinto melhor.
Abraços

mundo azul disse...

...tal e qual!
Realmente, é triste perceber quando pessoas tentam ocupar lugares que não lhe pertencem...Na vida!


Uma excelente observadora você é!


Beijos de luz e o meu especial carinho...